A FÁBRICA DE POMPÉIA


“EXISTEM ‘BELAS ALMAS’ E ALMAS MENOS BELAS. EM GERAL AS PRIMEIRAS REALIZAM POUCO, AS OUTRAS REALIZAM MAIS.”

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Anotações pessoais

Quando se é um visitante de primeira viagem no centro esportivo não se tem idéia da magnitude que o local possui do lado externo. A primeira sensação é de estranheza, uma fábrica restaurada, galpões de tijolos aparentes. Mas ao se adentrar no espaço aparece um novo local, longe da cidade de São Paulo, como se fosse uma cidadela como a própria arquiteta define, com ruas, ‘casas’ e população; um local não perceptível ao lado externo.




O clima ambiente muda, não só sensitivamente, mas também o clima físico em si. Dentro dos galpões com a presença do espelho d’água que percorre o ambiente e dos grandes vãos sem um fechamento total, surge um frescor ambiente, um respiro na cidade, a própria arquiteta define o SESC Fábrica de Pompéia como um sopro de vento, uma lasca de luz, impressões obtidas no local.




Esse frescor ambiente é causado em parte pela ausência de fechamentos totais internos aos galpões. No galpão de ateliês existem as separações ente os ambientes para os diversos ateliês, mas essas separações feitas em tijolos de concreto não atingem o teto, isolando visualmente e definindo espacialmente sem interromper a ventilação.



Todo o conjunto esportivo apresenta unidade material e continuidade de espaços. A verdade dos materiais está expressa por toda a obra. Apesar de existir certa setorização como a área onde acontecem as atividades culturais, a área onde se pode alimentar e a onde ocorrem as atividades esportivas o conjunto é coeso e facilmente identificável, logo a pessoa que o visita se encontra.


A sempre a presença da fábrica em união com a cultura, com esse ambiente novo criado. A arquitetura não é negada, os galpões são postos em evidencia, mas o que poderia se bruto, rude é quebrado com detalhes da própria obra como o mobiliário especifico, detalhes decorativos e outras sutilezas presentes.



Nos volumes criados nas áreas separadas pelo córrego das Águas Pretas surge também a dualidade entre a cidadela criada e a cidade de São Paulo. Visitando o conjunto esportivo, ao se olhar por entre uma das grandes aberturas nas paredes sai-se daquele mundo singular, daquela cidadelazinha, para estar em contato novamente com a metrópole. Situação parecida ocorre quando se está em uma das grandes rampas que unem esse bloco ao bloco dos vestiários, surge também certo sentimento de domínio da cidade.


Nas rampas aparece também uma sutileza do projeto que afirma a sua singularidade, as flores de mandacaru no ‘desencontro’ das rampas com os blocos. As flores brincam com toda a dureza do concreto aparente e com a sua própria fragilidade logo que protegem para que as pessoas não caiam e são apenas esculturas esbeltas de ferro. O conjunto todo parece brincar com essa dualidade entre o bruto, forte e o singelo e sutil.



De todas as características do conjunto SESC Fábrica de Pompéia o que mais chama atenção é de ainda funcionar e como foi pensado e proposto. É uma arquitetura ‘feia’ no sentido de não ser comum e nem usual, de não ser cansativa e se mostrar sempre nova e encantar ainda visitantes atuais, uma obra que se impõe sem diminuir as pessoas como ocorriam nas catedrais góticas mesmo usando grandes dimensões e concreto aparente. Uma fábrica que solta flores pela chaminé.

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